terça-feira, 22 de junho de 2010

Texto Vigésimo primeiro

O Pequeno Alemão




“o homem tem de ter algo, a que possa obedecer incondicionalmente”
F. Nietzsche.


O que está escrito aí, tio?
_Que a nossa gloriosa Alemanha está toda arrasada. Mataram todo mundo,destruíram tudo e eles não vão ter comida nem dinheiro para nada e que nos somos a última esperança deles.Temos de trabalhar que nem burros, fazer a vida por aqui mesmo, e se deus quiser mandar tudo que a gente puder para eles pagarem para reconstruir o que a guerra destruiu.
Pode ser, pensei, outro dia ouvira baixinho no rádio, escondido com meu tio lá no quartinho dos fundos, um homem falando que nem louco:
_ _ “SEIT ICH 1914 ALS FREIWILLIGER MEINE BESCHEIDENE KRAFT IM ERSTEN, DEM REICH AUFGEZVUNGENEN WELTKRIEG EINSETZTE, SIND NUNZEHR ÜBER DREISSIG JAHRE VERGANGEN. IN DIESEN DREI JAHRZEHNTEN HABEN MICH BEI ALL MEINEM DENKEN, HANDELN UND LEBEN NUR DIE LIEBE UND TREUE ZU MEINEM VOLK BEZEGT. SIE GABEN MIR DIE KRAFT, SCHWERSTE ENTSCHLÜSSE ZU FASSEN, WIE SIE BISHER NOCH KEINEM STERBLICHEN GESTELLT WORDEN SIND. ICH HABE MEINE ZEIT, MEINE ARBEITSKRAFT UND MEINE GESUNDHEIT IN DIESEN DREI JAHRZEHNTEN VERBRAUCHT” **.
O homem falava de um jeito que parecia desesperado,fiquei com pena dele.Como alguém podia ser tão malvado para fazer uma coisa dessas com a Alemanha do meu tio?
É alemão-- informara ao ver meus olhos arregalados.
Agora a expressão dele era de profunda tristeza. Ele falou tudo isso sem tirar os olhos da carta.Mas o que me impressionou demais é que ele estava com voz e cara de choro.Um homem daquele tamanho!Fiquei muito impressionado, acho que estava também com um pouco de vergonha porque a família dele, aqueles parentes lá da Alemanha, estavam tão pobres que precisavam pedir dinheiro para ele. Que humilhação!
_Temos que ajudar! É nossa obrigação ajudar os parentes quando eles precisam da gente.
Acho que ele estava falando mentira, porque eu já escutara a avó dizendo muitas vezes que nos estávamos passando necessidade e nunca ouvi ninguém falar da ajuda de nenhum parente. Ele dobrou a carta bem devagarinho e colocou no bolso da camisa.Além de tudo eu estava decepcionado: Todo mundo só falara bem daquele país maravilhoso, cheio de parentes ricos e agora vinham pedir dinheiro que fazia até o meu tio-o homem mais durão que eu conhecia-chorar e ficar com aquela cara de bobo, que nem eu quando apanhava uns tabefes da avó ou do pai.
Nós estávamos na sala, o meu tio saiu e foi andando reto e olhando para o chão. Parece até que os braços dele estavam mais compridos.Nem fechou a porta, se a avó visse ia xingar ele.
Ia escurecendo e parece que tudo ficou meio triste, como quando tem alguém doente em casa. Tomei uma decisão naquele instante: Hei de ajudar o meu tio, e o meu pai, a ganhar muito dinheiro, muito mesmo que até sobrasse para mandar para os parentes de tudo que era lugar.
_Em quê está pensando o menino?Era minha avó entrando na sala. Suspirei e disse que em nada.Não se deve deixar as mulheres se meterem nesses assuntos importantes.É o que o meu tio pensaria!
Eu tinha dez anos. A segunda guerra mundial acabara de acabar.
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__Tio, porque o senhor vai com as putas?Ela me perguntou muito tempo depois que saí da prisão.
__ Olha,tenho 55 anos, fazendo bem as contas e seguindo o que as estatísticas dizem--se não morrer de acidente burro, desses que a gente mesmo provoca por excesso de alcool, alegria ou de pesar--devo viver até os 65 o que me dá 10 anos mais. Considerando que o ano tem 54 semanas no total terei 520 teóricas semanas de vida.
No atual estágio da minha existência, e, considerando o meu desempenho sexual corriqueiro, hei de dar, em média, uma trepada por semana o que perfaz a tenebrosa conclusão que só terei, na melhor das hipóteses, 520 orgasmos antes de morrer.Essa verdadeira sentença de desprazer me deixa deprimido, desalentado e mesmo, com raiva e ciúme do mundo.Veja, garota, que não falo de amor.
O meu fantástico senso de sobrevivência -- que muito sabiamente o nosso equipamento biológico desenvolveu-- reagiu e me fez carecer os critérios de uma boa trepada. (creio que você e muitas outras pessoas vão considerar que esta palavra não é nada adequada, todavia quem já está com as fodas contadas não tem mesmo pejo de falar as coisas como elas são. Portanto, trepadas, sim. Outros diriam “fazer amor” ou ter “relações sexuais” ou manter “intercurso sexual”, o caralho! Eufemismos verborrágicos).Estou morrendo e o ressentimento me autoriza destilar minhas dores.Gastei meus amores e minhas possibilidades de entender as mulheres amorosas.
Dou conselhos para as fêmeas:
Macho—não os machões que estes são doidos que disfarçam a própria loucura—quer da mulher anuência, consentimento, docilidade e participação. Quer que ela goze sem que ele tenha que fazer malabarismos de circo. Não se pode esquecer que o homem tem de fazer algo NA mulher para gozar.Essa é sua preocupação vital...estou falando asneiras.
Não sei dar conselhos!
55anos de vida e não aprendi nada que faça alguém viver melhor. Poderia dizer o peso da terra, o cálculo da integral e da derivada! Mas não consegui distinguir olhares de amor nem perceber as delícias que amores antigos soem proporcionar. Deveria existir um curso para se aprender o que de fato interessa aos indivíduos.Parece que tudo que eu aprendi serve somente a um propósito fora de mim.Como não sei pedir sexo,compro.

_Tio, mas e o amor? Insistiu a garota.
O amor passou pela minha vida como um tufão, deixou tudo em pedaços, enquanto durou foi uma vertigem alucinada. Uma doença maligna que fazia meu coração estremecer como uma cristaleira em dia de terremoto.O meu afeto foi como uma gigantesca inundação, que ultrapassando todas as medidas, acabou por afogar tudo.Hoje me sinto como um deserto: Durante o dia ,seco e árido;durante a noite , escuro e gelado.E é tudo mentira,não senti nada disso,mas é bom falar assim,as dores passam a ter algum sentido.
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Todo homem tem que ter inimigos. Como aceitar certas diferenças e certas condutas.Alguém há tão diferente que possa vir a ser ameaçador para mim e despertar meus tigres internos na postura de autodefesa.Eis a razão.Por isso não temo o ter inimigos.A violência dorme em mim ,como em todos nós, e em sabendo posso conviver com ela e dominá-la para servir aos meus propósitos.Não gosto de sofrer por raiva. É idiota e altamente desgastante. A mentira, também, cumpre seu papel de proteger de certas dores inescusáveis. Todos sabem disso. Não devemos dizer tudo. No entanto somos todos educados de forma paradoxal, não devemos fazer isso, não devemos mentir, nem ter inimigos, mas como viver então de forma certa? Como apertar os botões das condutas corretas para que a vida seja uma sinfonia e não uma algazarra sem sentido?Quem sabe tocar essa música?
Quando conheci, muito tempo depois daquela carta, que o meu tio não sabia ler alemão fiquei lívido de espanto. Como se um dos grandes fundamentos de minha vida houvesse desaparecido numa bruma de horror.Eu gostava dele de uma forma reverencial e não cabia a possibilidade de uma mentira naquele assunto.Desnecessária.Nada havia de parentes carentes, a carta nem era da Alemanha.Por quê aquilo?Que maldita inspiração o levou a gravar uma marca daquelas em mim?
Discutimos. Brigamos.Ele me bateu.Virou meu inimigo.Matei-o a pauladas.Uma pena, eu gostava dele.Mas, não se deve mentir a crianças!

domingo, 28 de março de 2010

Texto Vigésimo Primeiro

COM TODAS AS LETRAS


Teu trabalho é inútil.
Não serve ao estômago
À boca
Ao intelecto
À alma.

Teu esforço não serve
Para nada
(senão para que te deixem viver miseravelmente)

querem-te para o serviço idiota
Que não aproveita à vida
Ao sexo
Ao amor.

Inzoneiro,finges sério labor,
Elencas razões essenciais
Para um fazer estúpido.


Melhor se fizesses cócegas aos cães,
Receberias fidelidade e lambidas.

Sísifo e burro acreditas na dignidade do esforço
Sempre pago a menor.Sempre!
Por quê trabalhas?

Ganhas muito,
para a imbecilidade que fazes.

Laboras,qualquer coisa e mal
Por tempo determinado e igual.

Ocupado com nada
Esperas que te paguem,
Recompensem
Reconheçam.

Para quê trabalhas?

Mentem quando te falam
da dignidade do trabalho.
Melhor que tomasses a comida do outro.

Serias mais respeitado como inimigo!
Defrontar-te-ias com a força do outro:
Repartem ou morrem.

Vives dando da tua força e
Do teu suor aos que nem pedem.Compram
a tua ignorância e estupidez.Bobo,
esperas que tenham por ti a compaixão dos bem fornidos.

Eles não repartirão.


Eles não podem ser condescendentes
com pobres de espírito.
Não és sequer uma ameaça às necessidades deles.

É comum que chores
Como uma cria abandonada,
Com olhos de esperança na bondade deles!
Sê bom para ti mesmo,
Ou repartem ou morrem!

domingo, 14 de março de 2010

Vigésimo Texto

Amores

Algumas ternuras melhores,
deixam restos indeléveis.
O que se quer é o bom,
o que permite sorrir no escuro.

Lamber quem se quer é bom.
Dar-lhe ares de perfeição é idiotice.
Podemos nos enrolar com o amor,
Mas quem sabe onde ele está?

A ternura é melhor que o amor,e quem não sabe?
A amizade é melhor que o amor,mas que fazer?
Esmagados meus sentidos desejam,
O que o outro não pode dar.

Os anjos devem rir dos que amam.
Mas eles devem ser invejosos!

quinta-feira, 4 de março de 2010

Décimo Nono

Você fica pequeno quando tem medo

Então, porque é que você tem medo
das bichas
das lésbicas
dos aleijados
dos travestis
dos diferentes?

O que há em você
que goza indiferente
que sofre pelo avesso
a dor do outro?

Por quais frinchas você contempla o mundo?
Quem lhe ensinou isso? Que cérebro ruim é esse seu
que não corrige as bobagens aprendidas,
não corrige o mundo?

Estranhos desejos fazem volutas por sua cabeça tonta.
Sofrimentos de antolhos.
Como é possível ser feliz assim?
Como é possível ser?
Como é possível assim?
Um resto de animal comandando
Uma inteligência cibernética.
Aleijão afetivo!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Décimo Oitavo Texto

Toca o pandeiro

Olha aqui! O importante é tocar o pandeiro,
que esta orquestra não está para ouvir pequenos.

Veja o esforço dos músicos,eles tem de tocar,
esperar que o conjunto soe,come il faut.

O homem da trompa parece assustado,
as trompas cumprem silêncios,para as violas.

Ninguém quer um trompete desenfreado,
um fagote desafinado,um banjo qualquer.

Violinos tocam mais, e erram pior.Desequilibram.
Rufam tambores,pouco .Machucam demais o som.

Entre dois acordes, um tanto de pouco ruído
talvez descansem sensibilidades maiores.

Não é necessário entender de orquestra
Se você já tiver de pronto,qualquer coração mínimo.

Mas se você tocar o seu pandeiro,
Isso vai ser bom até para o desarranjo.

Toca o pandeiro!
Qualquer um tem de fazer um som!

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Décimo Sétimo Texto

(texto dedicado aos colegas do Direito)

A BOA E JUSTA LEI

Que fique bem claro:
A lei existe para proteger os ricos,
os poderosos,
os proprietários,os bem nascidos
os herdeiros.
Os que sabem aproveitar,
os que conhecem os sabores,
os olores,e os perfumes.
Os que conhecem o conforto,
os prazeres,
as iguarias,
os privilégios,
os lugares bonitos e elegantes.
Os que desfrutam
da abundância,
da etiqueta,
do bem vestir
e do caminhar suave como dândi.
A lei é boa e justa
quando é feita por nobres
requintados,doutos e intelectuais.
E deve estender seu manto
para as causas de quem produz.
Quem tem meios para produzir,
quem gera empregos,
e dá alimento para quem trabalha.
A lei justa não incrimina
quem tem posses,
títulos,
contatos,
relações.
A lei boa não castiga
quem é estabelecido
conhecido,
respeitado,
de boa índole
e bem vestido.
A lei deve ser rígida,
sim,com os pobres.
Eles devem conhecer
seu lugar,
suas possibilidades,
suas limitações,
sua patológica dependência.
A lei deve proteger,sim, os ricos
para que não sejam destruídos pelos pobres;
para que alguém tenha o que oferecer.
Quem dará trabalho e oportunidades aos pobres?
A boa lei é a que tem que zelar
pelo bem social.
Tem que evitar a desordem,
tem que assegurar o bem estar da boa sociedade.
Tem que evitar que os vagabundos corrompam a juventude trabalhadora.
Tem que evitar as nefastas greves,
paralisações,piquetes,reinvindicações.
E reclamações que incomodam,sim,aos pobres, que devem ter sossego para trabalhar.
A justa lei tem,sim,que reprimir demandas exageradas dos pobres que querem subverter a ordem das coisas.
Querendo eles serem os ricos!
Tem que dar cabo das pretensões dos pobres que por todos os artifícios querem abandonar seu lugar na escala social para vir ocupar as posições de ricos.
A boa lei sabe interpretar as sempre justas reivindicações dos justamente mais abastados.
Porque é deles que emana tudo que se vê.
O resto é sentimentalismo piegas de quem não tem o que fazer.
Se a lei não proteger os ricos,quem vai?

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Décimo Sexto texto

Você não acredita, não acredita
Na coragem que a humilhação dá.
Você não acredita que vai acontecer com sua vida, o grande tremor!
Não crê no desespero. Mantém um olho fechado.
Saiba:
Um homem avermelhado come um fígado inteiro de uma bocada só
e desvairado deixará escorrer do lábio um fio vermelho, irônico.
Tema os injuriados,eles sabem o que fazem.
Tenha a coragem dos que olham, de lado, de frente.
Como é que você foi deixando isso acontecer?
Como é que você sabe da dor dos outros e anestesiado mantém a bunda pesada?
Quem anulou a sua vontade de ser magnânimo?
Ser filho das estrelas,
Ter o privilégio de caminhar por essas terras
Devia deixar-lhe extasiado de bem.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Décimo Quinto Texto

O INFLAMADO DE EMOÇÃO,MEIO CEGO,MEIO AZUL,
TEM O CORAÇÃO DESAMPARADO COMO UM CACHORRO NA CHUVA.
FICA CONFUSO COMO SACO VAZIO CARREGADO PELO VENTO.
QUALQUER DESATENÇÃO É UM DESATINO.
MEIO CAMINHO PARA A INCONSEQUÊNCIA.
EM DIAS ASSIM É COMO SE O DONO DO CIRCO,
VESTIDO DE SMOKING,
ESTIVESSE A LEVAR
O MACACO PARA REZAR.

Décimo Quarto texto

MULHER DE SAPATO DE SALTO ALTO É UM PERIGO



Algumas coisas a gente deve ter a decência de não contar.Mas o caso é que eu nunca me conformei com uma situação deveras vexatória que eu passei por causa de um sapato de salto alto.
Eu tenho uma sobrinha que mora numa favela na periferia de Belo Horizonte-vou poupar todo mundo dos detalhes e irei direto ao sapato alto.Num belo dia estava eu visitando essa tal sobrinha quando ela me chamou para ir a uma festa que haveria na creche da sua filha mais nova.”Coisa rápida” disse ela.O embaixador de não sei aonde vai inaugurar um berçário novo.Eu fui.Não tinha nada para fazer mesmo.Fui.
Eu nunca tinha visto, assim ao vivo, tanta gente de terno e tanta mulher bonita e bem arrumada como naquele dia.Fiquei por ali mais admirando as pessoas, suas roupas, penteados do que prestando atenção no que acontecia, estávamos todos no pátio da creche.Admirei demais uma mulher linda e ricamente perfumada que toda séria acompanhava um senhor muito bem vestido e sorridente.Minha sobrinha viu meu interesse e falou baixinho no meu ouvido “Mulher do embaixador” “Aah!”.Exclamei e continuei admirando.E depois de um tempo foi ficando muito aglomerado e houve até empurra-empurra.Eu procurei ficar perto daquela mulher o mais próximo que me deixavam.Discurso dali, discurso daqui, tivemos que andar todos para entrar na creche.E foi aí que tudo começou.Ao andarmos todos muito grudados uns nos outros não vemos por onde andamos e eu fui o primeiro a perceber o embaraço da mulher bonita.O salto do sapato dela, muito fino, entrou na grelha do ralo que havia no piso.Eu percebi e quis ajudar.Abaixei e tentei puxar o pé da mulher.Mas estava mesmo agarrado, então eu pus mais força.Exagerei na força, levantei demais o pé da mulher .Ela desequilibrou e caiu bem por cima da minha cabeça.Nisso alguém, um dos homens de terno, tentava ajudar a mulher a se levantar .Mas parece que ela desmaiara ou sei lá o que aconteceu.Eu só estava sentindo o peso dela em cima de mim e o alvoroço de um monte de gente gritando.Por fim retiraram a mulher das minhas costas e aí começou o meu calvário.Dois homens me levantaram já dando porrada em mim por todo lado.Minhas mãos para trás, algemas, pontapés, tapas na orelha, empurrão e eu só gritava “foi o sapato dela!” Mais bolacha, “eu fui tirar o salto dela” mais porrada e empurrão.Enfiaram-me no camburão e ainda ouvi de longe uma mulher falando bem alto “acho que ele queria pegar a bolsa dela”.Desesperei.Chorei no camburão.Porque que eu fui me meter a por a mão naquele maldito sapato.O que que eu tinha de tentar ajudar a desenroscar aquela merda de salto.Não sei com que rapidez ,chegamos à delegacia, mais empurrão, bolachas e pé na bunda.Aí o delegado: ”O Senhor estava tentando roubar a bolsa da senhora, ô cafajeste?” Não adiantou explicar que eu estava tentando ajudar a mulher a tirar o salto do sapato dela que ficara enganchado.’Ah, quer dizer que o senhor, no meio daquela multidão, viu o salto do sapato da mulher ficar preso e abaixou-se,todo cavalheiro, para ajudar a retirá-lo?”Ele falou com tanto sarcasmo, num tom de voz tão provocativo e zombeteiro que até eu comecei a duvidar de mim”.Sem muita convicção eu disse a verdade:“é!”.Não adiantou, foi xingamento, mais tabefes, xadrez por três dias até aparecer um advogado da PUC que a minha sobrinha arranjou e me tirou daquele inferno.Estou processado por tentativa de furto.Com o meu orgulho aos pedaços por causa daquele maldito sapato de salto alto.Hoje quando vejo uma mulher se aproximar de mim, de salto alto, eu entro em pânico.Começo a suar frio.Eu odeio mulher de sapato alto.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Décimo Terceiro Texto

COM O TEMPO TODOS OS HOMENS VIRAM PERSONAGENS DE SÍ MESMOS.
ELES TEM MULHERES.FORAM PARIDOS POR MULHERES,
TEM DE SER CONSOLADOS,OU MURCHAM.
AOS POUCOS SE TRANSMUDAM DE BELOS CORPOS
PARA BELOS NOMES.
AO FINAL,GRANDES E CONFORTÁVEIS ABRIGOS,
SE FORAM AMADOS.
É BOM QUE SEJA ASSIM.
AFINAL VIVEM MAIS DO QUE É PRECISO.
ARROSTAM O NADA DEPOIS DO COITO.
DEVANEIAM.

TODO ANIMAL VIVE PARA SONHAR.
PARA QUE MAIS SERIA CRIADO?
APONTE,QUEM POSSA,
QUALQUER MAGIA MAIOR.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Décimo Segundo Texto

Se você quiser conhecer uma alma

Basta procurar na multidão qualquer rosto. Um.

Um que tenha rugas para guardar retratos, seria bom.

Outro que conheça o ofício de produzir esgar interessa.

Aqueles de olhares com pálpebras caídas, como as dos cães com fome, não fariam feio.

Os de olhos frios, digamos que possam ser olvidados.

Certos são alguns em que as narinas fremem, esses são bons a três metros de distância

Existem alguns um tanto quietos, quase bovinos, esses são mansos, ternos.

Mas se você encontrar os de olhos iluminados, radiantes, esses você deve beijar, sofregamente.

Nos rostos podem-se encontrar, também, bocas carnudas. Essas, entretanto pedem cuidado,são apenas o que aparentam.Num rosto bom, enganariam.

Em qualquer face o sorriso não é só dela, a boca, é preciso mais, talvez tudo.

Queixos podem ser desdenhosos, mas não podem querer, não servem para nada.

Mas se vir o conjunto trabalhando para um sorriso, aguarde judicioso enquanto ele se abre.E depois sorva.De sorrisos se alimenta qualquer alma,até as ressequidas,aquelas mesmas em que o rosto está fechado.Mas daí então dá para ver tudo.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Décimo primeiro texto

TENHO GROSSAS LÁGRIMAS RESERVADAS PARA OCASIÕES AMARELAS;
SÃO TODAS CONTADAS COMO OUROS DE SOVINAS.
NAÕ DEVO GASTÁ-LAS COM DORES,MAS COM DELICIOSAS GARGALHADAS INSANAS
DAQUELAS QUE NOS DOBRAM,NOS ARRANCAM ESTERTORES
E NOS FAZEM SENTIR QUE AINDA HÁ ALGO DIVERTIDO PARA SABOREAR.

MAS É CERTO QUE NÃO SE PODE RIR COM QUALQUER UM.
ESCOLHER COMPANHEIROS DE GARGALHAR É PROVIDÊNCIA.
E QUEM RI SOZINHO?

E HÁ OS MOTIVOS!
NÃO EXISTE RISO SEM MOTIVO.NEM OS LOUCOS OUSAM;
AS GARGALHADAS DELES ATENDEM A RAZÕES DE PROFUNDA SOLIDÃO.

AH! OS MOTIVOS.PRIMEIRO NÃO PODEMOS ESCOLHÊ-LOS
E EM TERCEIRO,PELO RISO,SOMOS ACOMETIDOS.NINGUEM PODE FURTAR-SE.
O RISO NÃO SE VENDE E É MUITO DURO CONTÊ-LO .

sábado, 30 de janeiro de 2010

Décimo texto

Sonhos são bons

Certas misérias são de matar,
o doce da vida,
o encanto de milharais ao sol.

Quem precisa de misérias são muitos.
Todos tortos como galhos crestados,no tempo seco.
Se soubessem das benesses das planícies,
se não fossem esforçados no mal,
talvez regurgitassem seus humores verdes e
sonhassem.

Deve existir uma cartilha de sonhar adequado.
Quem sabe de sonhos, sabe tudo.
Aprende a língua das imagens.Sabe outra gramática.
Os sonhadores são feitos de material que já foi,
Por isso carregam restos de lembranças nos costados.
Sonhadores não podem ser ordinários.São oferendas.
Também quebram fácil e
Estilhaçam desordenados.
Para o bem ou mal
O sonho estraga a miséria.
É bom?

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Nono texto

Há qualquer coisa

Há qualquer coisa lá fora que nos faz tremer,
tem de haver.
A sensação de dor e perda que se experimenta no viver
Não pode ser desgarrada do que há la´fora.
Algo lá fora dói,constantemente.
Algo lá fora exprime o todo bom,o todo mal e o todo todo.

Delicias nos aprisionam para que fiquemos.Ficamos.
A vertigem é cíclica,mas ficamos.

Sabemos que estamos passando
Intuímos o tamanho pequeno do tempo,estamos passando.

Há algo lá fora,tem de haver.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Oitavo texto

Prazeres


SIM, O PRAZER EXISTE, SIM, É VERDADE.
OS ABANDONADOS NA RUA SABEM.
QUEM NÃO SABERÁ?

SÓ OS DESPROVIDOS DA PERCEPÇÃO DE GOZAR A VIDA
NÃO VISLUMBRAM O PRAZER DA HONRA.
QUEM SE TRAI, MESMO A IRRESPONSAVEL FORMIGA DEAMBULANTE,
NÃO CONHECE O PAVOR DE ESTAR CONSIGO E O HORROR DO SILÊNCIO.
ASSIM, PUSILÂNIME, QUALQUER PRAZER É MANCHADO,
ESVAE EM NAUSEABUNDO OLOR.
É SÓ ESPERAR QUE A LUXURIA ESFRIE.

A TEXTURA E A LEVEZA DAS PLUMAS, O ROÇAR DE ROSTOS, A MÃO NA NUCA,
TUDO QUE É AZUL E SUAVE,
LÍQUIDO E AVELUDADO,QUENTE E MACIO,
DIZ: GOZA.É BOM.

MAS,COMO SE PERDOAR?
COMO EXTIRPAR A RAIZ DO MAL,ENCALACRADA NUM CORAÇÃO CHUCRO?
ZOTE É QUEM IGNORA OS GESTOS MÍNIMOS.
A FINURA DA CASCA DE CRISTAL QUE SE ESFRANGALHA COM GRITOS.
É PRECISO CERTO CUIDADO COM OS ABANDONADOS.
SEUS OLHOS BOVINOS GRUDAM COMO VISGO NAS CONSCIÊNCIAS DOS ESPERTOS DEMAIS.
CERTOS DANOS SÃO IRREPARÁVEIS.

NÃO HÁ QUE SE EVITAR MATAR OU MORRER.
DESDE QUE DOR E PRAZER SE ENGALFINHEM E DECIDAM
PELA JUSTIÇA E LISURA DO VENCEDOR.ELES EXISTEM.TEM DE EXISTIR.
MAS A CERTEZA DA HONRA PRAZEROSA TEM DE SER A SENHORA DOS DIAS FUTUROS.
HÁ QUE DORMIR COM A SENHORA DOS DIAS.
PARA CONSCIÊNCIAS QUE FLUTUAM
SEMPRE EXISTIRÃO BRISAS.
JÁ AS TORMENTAS NÃO PEDEM ARREGLO,ARREBATAM,
ARRANCAM E LEVAM PARA O NADA.
AS TORMENTAS SÃO SÓ CONSEQUENCIAS.NÃO CUIDAM
DESCULPAR-SE.ARRASAM.

O PRAZER E O GOZO ,O BEM,O BELO E O JUSTO
NÃO DEVERIAM SE REALIZAR
ACORRENTADOS?

domingo, 24 de janeiro de 2010

Sétimo texto

Dúvidas


Preciso de um cavalo para ir à Roma,
pensando bem,não devo ir à Roma.
Se não vou à Roma não preciso cavalo.
Para quem não vai à Roma um cavalo inteiro é muito.
Talvez um cabrito seja menos e mais apropriado para quem
não vai a Roma.
Acho que não precisarei do cabrito,também.
Você vê?
Ando cheio de dúvidas.

Sexto texto

O que se faz aqui


A falta de sentido fabrica o novo,
Recarrega um inicio qualquer.
Vaguear sobre nuvens convém,aos sóbrios,
que os ébrios vão de quimeras.

Quinto texto

RAZÕES

O QUE SABEM AS ÀRVORES
DAS RAZÕES DOS VENTOS?

SILENCIOSAS,
ELAS PERMANECEM.

Quarto texto

Serenidade


Há uma serenidade essencial.
Daquelas que por não serem fugazes,
mostram-se veladas,quietas.Imperturbáveis.

Não se lhas conquistamos soberbos.
Não há importâncias,nos calmos e serenos.

Mas a impassibilidade dos baobas seculares
exige raizes profundas.Para retirar alimento
onde poucos alcançam há de se crescer para dentro.

Um sestro não cria olhares despreocupados,
para tê-los há que se ter a paciência das mulheres a parir.
Quem tem?
Aqueles que conhecem todas as letras da dor,assemelham.
E não temem.
A coragem faz três quartos de um homem sereno,
o resto tem que ser preenchido,lentamente,
por sete ou seis pedaços de amor.
Se tanto.

terceiro texto

Combinado


Se me tiras a humanidade
Não esperes que eu atenda o teu aviso
De proibido entrar.

Não atenderei também a tua lei.

Não respeitarei teus deuses,
Teus pertences.


Se me tratas como animal
Espera a besta incontida
a faiscar nos meus olhos.

Espera a orgia dos meus desejos a saltarem
Ora despregados dos freios da razão.
Espera a minha indiferença a tua dor.


Se me queres alijado das todas
tuas terras.
Sem nada estou ao vento
E não respeitarei fronteiras.

Sem nada-tenho tudo.
Sem nada-posso livrar-me da minha vida e
Da tua também.


Se me tiras a dignidade
Estarei indignado contigo.
Serei indigno com tuas coisas.

Herói de mim para mim.


Se me desqualificas
Posso tudo ao meu critério.
Terei tudo ao meu prazer
Desqualificarei teu poder de qualificar.


Se me tiras a honra,
Desonrado, posso te tomar à força.
Sorrateiramente rirei do teu julgamento.


Se me tiras a comida
Morrerei mas posso bem
Matar-te antes e gozar um pouco mais.

Enfraquecerei
Mas usarei meus restos para tirar-te tudo.
Ficarei esgotado mas a alucinação da fome
far-me-á pregador da tua destruição.
............................................................................................

segundo texto

VOCÊ É UMA BESTA


Você acredita em deus
Você é burro,acredita em intermediários,padres,pastores,profetas.
Você é estúpido,acredita na sua vida eterna
Você é idiota, trabalha demais
Você é ignorante,confunde justiça com lei.
Você é ingênuo,acredita em justiça
Você é um cego,aceita toda lei
Você é estúpido,não sabe gozar
Você é desarticulado,não sabe pensar
Você é covarde,aceita o poder dos outros
Você é ridículo, se acha importante
Você é bobo,acredita em médico
Você é inacreditável,aguarda o futuro
Você é um carneiro,compra coisas demais
Acredita em rezas
Bate em crianças
Evita prazeres não reconhece a arte
Insiste em ir à escola
Aprova os governos
Ejacula em saco plástico
Tem medo da dor
Não faz sua música
Não sabe preparar sua própria comida
Monta em cavalo
Mata galinha e bebe leite de vaca
Come porco e lesma
Respira fumaça de óleo diesel
Poupa e quer guardar dinheiro
Tem medo de brigar e tomar o macho ou a fêmea que quer
Tem nojo da sua bosta e dos seus cheiros
Quer ser bonito e não é
Se acha inteligente sem pensar
Repete tudo o que lhe dizem
Mata por ouro
Dá-se ao árduo trabalho de roubar.
Mente
Quer viver muito
Come pouco e sofre
Come muito e sofre
Pensa que parir é bom ou ruim
Jura que vai amar para sempre
Diz que aceita a fidelidade humana
Condena o traficante e perdoa o usuário
Quer que alguém o defenda
Não respeita o trabalho do outro
Acredita em filosofias
Quer amar a mesma pessoa para sempre
Quer ser dono do outro
Confia no amor eterno
Não sabe o que fazer com o clitóris da mulher
Não sabe o que fazer com o cacete do homem
Polui os rios,estraga suas águas e gasta muito para purificá-las
Não gosta de preto e nem sabe por quê
Não gosta de judeu,árabe,portoriquenho ou esloveno como se fizesse diferença
Acha que ser branco,católico,francês,rico ou inteligente o faz melhor
Pensa poder manter a fantasia que pai é bom e seu.
Desenvolve a bobagem que filho é o máximo e seu.
Reza como se alguém fosse ouvir,intervir.
Julga-se merecedor de distinções
E acredita ser a imagem de deus.
Você é uma besta!
AVISO

Eles vão descer dos morros
Com paus e aerrequinze
Despenteados e esgazeados
Famintos
Mulambentos
Sem os dentes da frente
--eles nunca tem os dentes da frente.

Vão descer das caatingas
Dos cortiços
Das palafitas
Esfomeados
Atormentados
Com os filhos catarrentos
--e já sem os dentes da frente.
Não precisam saber muito:
Somente o ato ancestral
De martelar crânios.

Gafanhotos ávidos
Em milharal verde
Não saciarão de comida.
Vão comer você,com risos formidáveis.
Eles vão sair dos buracos
Barracos
Pontes
Marquises
Com aquelas roupas velhas
Que você doou no último inverno.
No hálito a cachaça reacendendo
Na cabeça os piolhos pululando.
Nas calças o cheiro da urina dormida
--e sem os dentes da frente—
trarão pedras nas mãos
sangue no olho e uma alegria incontida.
Esmagarão crânios com a energia dos recém despertos do torpor.
Vão comer de tudo da sua geladeira e vão rir a bandeiras despregadas de suas cuecas de seda
E vão limpar a bunda com as pantufas da sua mulher.
Eles sairão das construções abandonadas
Dos porões
Dos esgotos
Dos buracos
E usarão seus pedaços de faca sem fio para furar a sua barriga,rasgar a sua carne e cortar seu pinto.
Vão usar os seus sapatos novos
Os patins da sua filha
A guitarra do seu filho
E terão prazer especial em pisotear
Sua sogra,sua mãe,seus velhinhos.
Falarão errado,cuspirão no tapete e entrarão de sandálias mal cheirosas na sua banheira
--e também sem os dentes da frente—
Alguns vão querer foder sua mulher e suas filhas
E nem tirarão os trapos
No máximo vão por para fora aquele pinto sujo,cheio de esmegma verde,com um fedor horroroso e meterão à vontade.
Eles sairão das roças,das matas,das periferias do inferno.
E trarão foices,machados e ancinhos interessados em cortar pescoços.
Terão ouvidos moucos
A súplicas,desculpas e perdões.
Satisfeitos de por fim poderem comer não lhes custará nada gozar com o seu terror.
Talvez,com certa gravidade que os roceiros têm,matem,
Juntem os corpos numa pilha e ponham fogo como quem limpa a seara.
--sem os dentes da frente,eles também—
Darão aos gatos o caviar e o fois gras,cozinharão o filé mignon no feijão e acharão a maciez suspeita—lhes parecerá carne de preá.
Com aquelas mãos fortes,grossas,de unhas pretas,segurarão o seu pescoço e apertarão com facilidade.
Sentirá o horroroso bafo daquela boca fétida,com bigodes amarelados, a lhe falar impropérios que você não vai poder contestar.
E aí o que você vai fazer?