quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Décimo Oitavo Texto

Toca o pandeiro

Olha aqui! O importante é tocar o pandeiro,
que esta orquestra não está para ouvir pequenos.

Veja o esforço dos músicos,eles tem de tocar,
esperar que o conjunto soe,come il faut.

O homem da trompa parece assustado,
as trompas cumprem silêncios,para as violas.

Ninguém quer um trompete desenfreado,
um fagote desafinado,um banjo qualquer.

Violinos tocam mais, e erram pior.Desequilibram.
Rufam tambores,pouco .Machucam demais o som.

Entre dois acordes, um tanto de pouco ruído
talvez descansem sensibilidades maiores.

Não é necessário entender de orquestra
Se você já tiver de pronto,qualquer coração mínimo.

Mas se você tocar o seu pandeiro,
Isso vai ser bom até para o desarranjo.

Toca o pandeiro!
Qualquer um tem de fazer um som!

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Décimo Sétimo Texto

(texto dedicado aos colegas do Direito)

A BOA E JUSTA LEI

Que fique bem claro:
A lei existe para proteger os ricos,
os poderosos,
os proprietários,os bem nascidos
os herdeiros.
Os que sabem aproveitar,
os que conhecem os sabores,
os olores,e os perfumes.
Os que conhecem o conforto,
os prazeres,
as iguarias,
os privilégios,
os lugares bonitos e elegantes.
Os que desfrutam
da abundância,
da etiqueta,
do bem vestir
e do caminhar suave como dândi.
A lei é boa e justa
quando é feita por nobres
requintados,doutos e intelectuais.
E deve estender seu manto
para as causas de quem produz.
Quem tem meios para produzir,
quem gera empregos,
e dá alimento para quem trabalha.
A lei justa não incrimina
quem tem posses,
títulos,
contatos,
relações.
A lei boa não castiga
quem é estabelecido
conhecido,
respeitado,
de boa índole
e bem vestido.
A lei deve ser rígida,
sim,com os pobres.
Eles devem conhecer
seu lugar,
suas possibilidades,
suas limitações,
sua patológica dependência.
A lei deve proteger,sim, os ricos
para que não sejam destruídos pelos pobres;
para que alguém tenha o que oferecer.
Quem dará trabalho e oportunidades aos pobres?
A boa lei é a que tem que zelar
pelo bem social.
Tem que evitar a desordem,
tem que assegurar o bem estar da boa sociedade.
Tem que evitar que os vagabundos corrompam a juventude trabalhadora.
Tem que evitar as nefastas greves,
paralisações,piquetes,reinvindicações.
E reclamações que incomodam,sim,aos pobres, que devem ter sossego para trabalhar.
A justa lei tem,sim,que reprimir demandas exageradas dos pobres que querem subverter a ordem das coisas.
Querendo eles serem os ricos!
Tem que dar cabo das pretensões dos pobres que por todos os artifícios querem abandonar seu lugar na escala social para vir ocupar as posições de ricos.
A boa lei sabe interpretar as sempre justas reivindicações dos justamente mais abastados.
Porque é deles que emana tudo que se vê.
O resto é sentimentalismo piegas de quem não tem o que fazer.
Se a lei não proteger os ricos,quem vai?

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Décimo Sexto texto

Você não acredita, não acredita
Na coragem que a humilhação dá.
Você não acredita que vai acontecer com sua vida, o grande tremor!
Não crê no desespero. Mantém um olho fechado.
Saiba:
Um homem avermelhado come um fígado inteiro de uma bocada só
e desvairado deixará escorrer do lábio um fio vermelho, irônico.
Tema os injuriados,eles sabem o que fazem.
Tenha a coragem dos que olham, de lado, de frente.
Como é que você foi deixando isso acontecer?
Como é que você sabe da dor dos outros e anestesiado mantém a bunda pesada?
Quem anulou a sua vontade de ser magnânimo?
Ser filho das estrelas,
Ter o privilégio de caminhar por essas terras
Devia deixar-lhe extasiado de bem.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Décimo Quinto Texto

O INFLAMADO DE EMOÇÃO,MEIO CEGO,MEIO AZUL,
TEM O CORAÇÃO DESAMPARADO COMO UM CACHORRO NA CHUVA.
FICA CONFUSO COMO SACO VAZIO CARREGADO PELO VENTO.
QUALQUER DESATENÇÃO É UM DESATINO.
MEIO CAMINHO PARA A INCONSEQUÊNCIA.
EM DIAS ASSIM É COMO SE O DONO DO CIRCO,
VESTIDO DE SMOKING,
ESTIVESSE A LEVAR
O MACACO PARA REZAR.

Décimo Quarto texto

MULHER DE SAPATO DE SALTO ALTO É UM PERIGO



Algumas coisas a gente deve ter a decência de não contar.Mas o caso é que eu nunca me conformei com uma situação deveras vexatória que eu passei por causa de um sapato de salto alto.
Eu tenho uma sobrinha que mora numa favela na periferia de Belo Horizonte-vou poupar todo mundo dos detalhes e irei direto ao sapato alto.Num belo dia estava eu visitando essa tal sobrinha quando ela me chamou para ir a uma festa que haveria na creche da sua filha mais nova.”Coisa rápida” disse ela.O embaixador de não sei aonde vai inaugurar um berçário novo.Eu fui.Não tinha nada para fazer mesmo.Fui.
Eu nunca tinha visto, assim ao vivo, tanta gente de terno e tanta mulher bonita e bem arrumada como naquele dia.Fiquei por ali mais admirando as pessoas, suas roupas, penteados do que prestando atenção no que acontecia, estávamos todos no pátio da creche.Admirei demais uma mulher linda e ricamente perfumada que toda séria acompanhava um senhor muito bem vestido e sorridente.Minha sobrinha viu meu interesse e falou baixinho no meu ouvido “Mulher do embaixador” “Aah!”.Exclamei e continuei admirando.E depois de um tempo foi ficando muito aglomerado e houve até empurra-empurra.Eu procurei ficar perto daquela mulher o mais próximo que me deixavam.Discurso dali, discurso daqui, tivemos que andar todos para entrar na creche.E foi aí que tudo começou.Ao andarmos todos muito grudados uns nos outros não vemos por onde andamos e eu fui o primeiro a perceber o embaraço da mulher bonita.O salto do sapato dela, muito fino, entrou na grelha do ralo que havia no piso.Eu percebi e quis ajudar.Abaixei e tentei puxar o pé da mulher.Mas estava mesmo agarrado, então eu pus mais força.Exagerei na força, levantei demais o pé da mulher .Ela desequilibrou e caiu bem por cima da minha cabeça.Nisso alguém, um dos homens de terno, tentava ajudar a mulher a se levantar .Mas parece que ela desmaiara ou sei lá o que aconteceu.Eu só estava sentindo o peso dela em cima de mim e o alvoroço de um monte de gente gritando.Por fim retiraram a mulher das minhas costas e aí começou o meu calvário.Dois homens me levantaram já dando porrada em mim por todo lado.Minhas mãos para trás, algemas, pontapés, tapas na orelha, empurrão e eu só gritava “foi o sapato dela!” Mais bolacha, “eu fui tirar o salto dela” mais porrada e empurrão.Enfiaram-me no camburão e ainda ouvi de longe uma mulher falando bem alto “acho que ele queria pegar a bolsa dela”.Desesperei.Chorei no camburão.Porque que eu fui me meter a por a mão naquele maldito sapato.O que que eu tinha de tentar ajudar a desenroscar aquela merda de salto.Não sei com que rapidez ,chegamos à delegacia, mais empurrão, bolachas e pé na bunda.Aí o delegado: ”O Senhor estava tentando roubar a bolsa da senhora, ô cafajeste?” Não adiantou explicar que eu estava tentando ajudar a mulher a tirar o salto do sapato dela que ficara enganchado.’Ah, quer dizer que o senhor, no meio daquela multidão, viu o salto do sapato da mulher ficar preso e abaixou-se,todo cavalheiro, para ajudar a retirá-lo?”Ele falou com tanto sarcasmo, num tom de voz tão provocativo e zombeteiro que até eu comecei a duvidar de mim”.Sem muita convicção eu disse a verdade:“é!”.Não adiantou, foi xingamento, mais tabefes, xadrez por três dias até aparecer um advogado da PUC que a minha sobrinha arranjou e me tirou daquele inferno.Estou processado por tentativa de furto.Com o meu orgulho aos pedaços por causa daquele maldito sapato de salto alto.Hoje quando vejo uma mulher se aproximar de mim, de salto alto, eu entro em pânico.Começo a suar frio.Eu odeio mulher de sapato alto.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Décimo Terceiro Texto

COM O TEMPO TODOS OS HOMENS VIRAM PERSONAGENS DE SÍ MESMOS.
ELES TEM MULHERES.FORAM PARIDOS POR MULHERES,
TEM DE SER CONSOLADOS,OU MURCHAM.
AOS POUCOS SE TRANSMUDAM DE BELOS CORPOS
PARA BELOS NOMES.
AO FINAL,GRANDES E CONFORTÁVEIS ABRIGOS,
SE FORAM AMADOS.
É BOM QUE SEJA ASSIM.
AFINAL VIVEM MAIS DO QUE É PRECISO.
ARROSTAM O NADA DEPOIS DO COITO.
DEVANEIAM.

TODO ANIMAL VIVE PARA SONHAR.
PARA QUE MAIS SERIA CRIADO?
APONTE,QUEM POSSA,
QUALQUER MAGIA MAIOR.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Décimo Segundo Texto

Se você quiser conhecer uma alma

Basta procurar na multidão qualquer rosto. Um.

Um que tenha rugas para guardar retratos, seria bom.

Outro que conheça o ofício de produzir esgar interessa.

Aqueles de olhares com pálpebras caídas, como as dos cães com fome, não fariam feio.

Os de olhos frios, digamos que possam ser olvidados.

Certos são alguns em que as narinas fremem, esses são bons a três metros de distância

Existem alguns um tanto quietos, quase bovinos, esses são mansos, ternos.

Mas se você encontrar os de olhos iluminados, radiantes, esses você deve beijar, sofregamente.

Nos rostos podem-se encontrar, também, bocas carnudas. Essas, entretanto pedem cuidado,são apenas o que aparentam.Num rosto bom, enganariam.

Em qualquer face o sorriso não é só dela, a boca, é preciso mais, talvez tudo.

Queixos podem ser desdenhosos, mas não podem querer, não servem para nada.

Mas se vir o conjunto trabalhando para um sorriso, aguarde judicioso enquanto ele se abre.E depois sorva.De sorrisos se alimenta qualquer alma,até as ressequidas,aquelas mesmas em que o rosto está fechado.Mas daí então dá para ver tudo.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Décimo primeiro texto

TENHO GROSSAS LÁGRIMAS RESERVADAS PARA OCASIÕES AMARELAS;
SÃO TODAS CONTADAS COMO OUROS DE SOVINAS.
NAÕ DEVO GASTÁ-LAS COM DORES,MAS COM DELICIOSAS GARGALHADAS INSANAS
DAQUELAS QUE NOS DOBRAM,NOS ARRANCAM ESTERTORES
E NOS FAZEM SENTIR QUE AINDA HÁ ALGO DIVERTIDO PARA SABOREAR.

MAS É CERTO QUE NÃO SE PODE RIR COM QUALQUER UM.
ESCOLHER COMPANHEIROS DE GARGALHAR É PROVIDÊNCIA.
E QUEM RI SOZINHO?

E HÁ OS MOTIVOS!
NÃO EXISTE RISO SEM MOTIVO.NEM OS LOUCOS OUSAM;
AS GARGALHADAS DELES ATENDEM A RAZÕES DE PROFUNDA SOLIDÃO.

AH! OS MOTIVOS.PRIMEIRO NÃO PODEMOS ESCOLHÊ-LOS
E EM TERCEIRO,PELO RISO,SOMOS ACOMETIDOS.NINGUEM PODE FURTAR-SE.
O RISO NÃO SE VENDE E É MUITO DURO CONTÊ-LO .