sábado, 30 de janeiro de 2010

Décimo texto

Sonhos são bons

Certas misérias são de matar,
o doce da vida,
o encanto de milharais ao sol.

Quem precisa de misérias são muitos.
Todos tortos como galhos crestados,no tempo seco.
Se soubessem das benesses das planícies,
se não fossem esforçados no mal,
talvez regurgitassem seus humores verdes e
sonhassem.

Deve existir uma cartilha de sonhar adequado.
Quem sabe de sonhos, sabe tudo.
Aprende a língua das imagens.Sabe outra gramática.
Os sonhadores são feitos de material que já foi,
Por isso carregam restos de lembranças nos costados.
Sonhadores não podem ser ordinários.São oferendas.
Também quebram fácil e
Estilhaçam desordenados.
Para o bem ou mal
O sonho estraga a miséria.
É bom?

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Nono texto

Há qualquer coisa

Há qualquer coisa lá fora que nos faz tremer,
tem de haver.
A sensação de dor e perda que se experimenta no viver
Não pode ser desgarrada do que há la´fora.
Algo lá fora dói,constantemente.
Algo lá fora exprime o todo bom,o todo mal e o todo todo.

Delicias nos aprisionam para que fiquemos.Ficamos.
A vertigem é cíclica,mas ficamos.

Sabemos que estamos passando
Intuímos o tamanho pequeno do tempo,estamos passando.

Há algo lá fora,tem de haver.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Oitavo texto

Prazeres


SIM, O PRAZER EXISTE, SIM, É VERDADE.
OS ABANDONADOS NA RUA SABEM.
QUEM NÃO SABERÁ?

SÓ OS DESPROVIDOS DA PERCEPÇÃO DE GOZAR A VIDA
NÃO VISLUMBRAM O PRAZER DA HONRA.
QUEM SE TRAI, MESMO A IRRESPONSAVEL FORMIGA DEAMBULANTE,
NÃO CONHECE O PAVOR DE ESTAR CONSIGO E O HORROR DO SILÊNCIO.
ASSIM, PUSILÂNIME, QUALQUER PRAZER É MANCHADO,
ESVAE EM NAUSEABUNDO OLOR.
É SÓ ESPERAR QUE A LUXURIA ESFRIE.

A TEXTURA E A LEVEZA DAS PLUMAS, O ROÇAR DE ROSTOS, A MÃO NA NUCA,
TUDO QUE É AZUL E SUAVE,
LÍQUIDO E AVELUDADO,QUENTE E MACIO,
DIZ: GOZA.É BOM.

MAS,COMO SE PERDOAR?
COMO EXTIRPAR A RAIZ DO MAL,ENCALACRADA NUM CORAÇÃO CHUCRO?
ZOTE É QUEM IGNORA OS GESTOS MÍNIMOS.
A FINURA DA CASCA DE CRISTAL QUE SE ESFRANGALHA COM GRITOS.
É PRECISO CERTO CUIDADO COM OS ABANDONADOS.
SEUS OLHOS BOVINOS GRUDAM COMO VISGO NAS CONSCIÊNCIAS DOS ESPERTOS DEMAIS.
CERTOS DANOS SÃO IRREPARÁVEIS.

NÃO HÁ QUE SE EVITAR MATAR OU MORRER.
DESDE QUE DOR E PRAZER SE ENGALFINHEM E DECIDAM
PELA JUSTIÇA E LISURA DO VENCEDOR.ELES EXISTEM.TEM DE EXISTIR.
MAS A CERTEZA DA HONRA PRAZEROSA TEM DE SER A SENHORA DOS DIAS FUTUROS.
HÁ QUE DORMIR COM A SENHORA DOS DIAS.
PARA CONSCIÊNCIAS QUE FLUTUAM
SEMPRE EXISTIRÃO BRISAS.
JÁ AS TORMENTAS NÃO PEDEM ARREGLO,ARREBATAM,
ARRANCAM E LEVAM PARA O NADA.
AS TORMENTAS SÃO SÓ CONSEQUENCIAS.NÃO CUIDAM
DESCULPAR-SE.ARRASAM.

O PRAZER E O GOZO ,O BEM,O BELO E O JUSTO
NÃO DEVERIAM SE REALIZAR
ACORRENTADOS?

domingo, 24 de janeiro de 2010

Sétimo texto

Dúvidas


Preciso de um cavalo para ir à Roma,
pensando bem,não devo ir à Roma.
Se não vou à Roma não preciso cavalo.
Para quem não vai à Roma um cavalo inteiro é muito.
Talvez um cabrito seja menos e mais apropriado para quem
não vai a Roma.
Acho que não precisarei do cabrito,também.
Você vê?
Ando cheio de dúvidas.

Sexto texto

O que se faz aqui


A falta de sentido fabrica o novo,
Recarrega um inicio qualquer.
Vaguear sobre nuvens convém,aos sóbrios,
que os ébrios vão de quimeras.

Quinto texto

RAZÕES

O QUE SABEM AS ÀRVORES
DAS RAZÕES DOS VENTOS?

SILENCIOSAS,
ELAS PERMANECEM.

Quarto texto

Serenidade


Há uma serenidade essencial.
Daquelas que por não serem fugazes,
mostram-se veladas,quietas.Imperturbáveis.

Não se lhas conquistamos soberbos.
Não há importâncias,nos calmos e serenos.

Mas a impassibilidade dos baobas seculares
exige raizes profundas.Para retirar alimento
onde poucos alcançam há de se crescer para dentro.

Um sestro não cria olhares despreocupados,
para tê-los há que se ter a paciência das mulheres a parir.
Quem tem?
Aqueles que conhecem todas as letras da dor,assemelham.
E não temem.
A coragem faz três quartos de um homem sereno,
o resto tem que ser preenchido,lentamente,
por sete ou seis pedaços de amor.
Se tanto.

terceiro texto

Combinado


Se me tiras a humanidade
Não esperes que eu atenda o teu aviso
De proibido entrar.

Não atenderei também a tua lei.

Não respeitarei teus deuses,
Teus pertences.


Se me tratas como animal
Espera a besta incontida
a faiscar nos meus olhos.

Espera a orgia dos meus desejos a saltarem
Ora despregados dos freios da razão.
Espera a minha indiferença a tua dor.


Se me queres alijado das todas
tuas terras.
Sem nada estou ao vento
E não respeitarei fronteiras.

Sem nada-tenho tudo.
Sem nada-posso livrar-me da minha vida e
Da tua também.


Se me tiras a dignidade
Estarei indignado contigo.
Serei indigno com tuas coisas.

Herói de mim para mim.


Se me desqualificas
Posso tudo ao meu critério.
Terei tudo ao meu prazer
Desqualificarei teu poder de qualificar.


Se me tiras a honra,
Desonrado, posso te tomar à força.
Sorrateiramente rirei do teu julgamento.


Se me tiras a comida
Morrerei mas posso bem
Matar-te antes e gozar um pouco mais.

Enfraquecerei
Mas usarei meus restos para tirar-te tudo.
Ficarei esgotado mas a alucinação da fome
far-me-á pregador da tua destruição.
............................................................................................

segundo texto

VOCÊ É UMA BESTA


Você acredita em deus
Você é burro,acredita em intermediários,padres,pastores,profetas.
Você é estúpido,acredita na sua vida eterna
Você é idiota, trabalha demais
Você é ignorante,confunde justiça com lei.
Você é ingênuo,acredita em justiça
Você é um cego,aceita toda lei
Você é estúpido,não sabe gozar
Você é desarticulado,não sabe pensar
Você é covarde,aceita o poder dos outros
Você é ridículo, se acha importante
Você é bobo,acredita em médico
Você é inacreditável,aguarda o futuro
Você é um carneiro,compra coisas demais
Acredita em rezas
Bate em crianças
Evita prazeres não reconhece a arte
Insiste em ir à escola
Aprova os governos
Ejacula em saco plástico
Tem medo da dor
Não faz sua música
Não sabe preparar sua própria comida
Monta em cavalo
Mata galinha e bebe leite de vaca
Come porco e lesma
Respira fumaça de óleo diesel
Poupa e quer guardar dinheiro
Tem medo de brigar e tomar o macho ou a fêmea que quer
Tem nojo da sua bosta e dos seus cheiros
Quer ser bonito e não é
Se acha inteligente sem pensar
Repete tudo o que lhe dizem
Mata por ouro
Dá-se ao árduo trabalho de roubar.
Mente
Quer viver muito
Come pouco e sofre
Come muito e sofre
Pensa que parir é bom ou ruim
Jura que vai amar para sempre
Diz que aceita a fidelidade humana
Condena o traficante e perdoa o usuário
Quer que alguém o defenda
Não respeita o trabalho do outro
Acredita em filosofias
Quer amar a mesma pessoa para sempre
Quer ser dono do outro
Confia no amor eterno
Não sabe o que fazer com o clitóris da mulher
Não sabe o que fazer com o cacete do homem
Polui os rios,estraga suas águas e gasta muito para purificá-las
Não gosta de preto e nem sabe por quê
Não gosta de judeu,árabe,portoriquenho ou esloveno como se fizesse diferença
Acha que ser branco,católico,francês,rico ou inteligente o faz melhor
Pensa poder manter a fantasia que pai é bom e seu.
Desenvolve a bobagem que filho é o máximo e seu.
Reza como se alguém fosse ouvir,intervir.
Julga-se merecedor de distinções
E acredita ser a imagem de deus.
Você é uma besta!
AVISO

Eles vão descer dos morros
Com paus e aerrequinze
Despenteados e esgazeados
Famintos
Mulambentos
Sem os dentes da frente
--eles nunca tem os dentes da frente.

Vão descer das caatingas
Dos cortiços
Das palafitas
Esfomeados
Atormentados
Com os filhos catarrentos
--e já sem os dentes da frente.
Não precisam saber muito:
Somente o ato ancestral
De martelar crânios.

Gafanhotos ávidos
Em milharal verde
Não saciarão de comida.
Vão comer você,com risos formidáveis.
Eles vão sair dos buracos
Barracos
Pontes
Marquises
Com aquelas roupas velhas
Que você doou no último inverno.
No hálito a cachaça reacendendo
Na cabeça os piolhos pululando.
Nas calças o cheiro da urina dormida
--e sem os dentes da frente—
trarão pedras nas mãos
sangue no olho e uma alegria incontida.
Esmagarão crânios com a energia dos recém despertos do torpor.
Vão comer de tudo da sua geladeira e vão rir a bandeiras despregadas de suas cuecas de seda
E vão limpar a bunda com as pantufas da sua mulher.
Eles sairão das construções abandonadas
Dos porões
Dos esgotos
Dos buracos
E usarão seus pedaços de faca sem fio para furar a sua barriga,rasgar a sua carne e cortar seu pinto.
Vão usar os seus sapatos novos
Os patins da sua filha
A guitarra do seu filho
E terão prazer especial em pisotear
Sua sogra,sua mãe,seus velhinhos.
Falarão errado,cuspirão no tapete e entrarão de sandálias mal cheirosas na sua banheira
--e também sem os dentes da frente—
Alguns vão querer foder sua mulher e suas filhas
E nem tirarão os trapos
No máximo vão por para fora aquele pinto sujo,cheio de esmegma verde,com um fedor horroroso e meterão à vontade.
Eles sairão das roças,das matas,das periferias do inferno.
E trarão foices,machados e ancinhos interessados em cortar pescoços.
Terão ouvidos moucos
A súplicas,desculpas e perdões.
Satisfeitos de por fim poderem comer não lhes custará nada gozar com o seu terror.
Talvez,com certa gravidade que os roceiros têm,matem,
Juntem os corpos numa pilha e ponham fogo como quem limpa a seara.
--sem os dentes da frente,eles também—
Darão aos gatos o caviar e o fois gras,cozinharão o filé mignon no feijão e acharão a maciez suspeita—lhes parecerá carne de preá.
Com aquelas mãos fortes,grossas,de unhas pretas,segurarão o seu pescoço e apertarão com facilidade.
Sentirá o horroroso bafo daquela boca fétida,com bigodes amarelados, a lhe falar impropérios que você não vai poder contestar.
E aí o que você vai fazer?